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Brasil tem 2 milhões de pessoas com hepatite C, porém a maioria não sabe que tem a doença

Entidades médicas lançam campanha para incentivar as pessoas a fazerem o teste que detecta a doença e para lembrar aos médicos de pedirem o exame

As sociedades brasileiras de Infectologia e de Hepatologia lançaram na terça-feira 28, em São Paulo, uma campanha nacional para aumentar a detecção e o tratamento da hepatite C, uma infecção causada pelo vírus HCV. “Mais de 2 milhões de pessoas convivem com a doença e apenas 5% ficaram curadas no País. Mais gente precisa ser diagnosticada e tratada”, diz Edison Parise, que preside a sociedade de Hepatologia. No anúncio da campanha, ele e seus colegas usavam gravatas e lenços amarelos, cor associada ao combate às hepatites.

Pesquisa encomendada pelas entidades ao Instituto Datafolha e divulgada ontem mostra que a doença não está na lista de prioridades dos pacientes e nem dos médicos. “Apenas 38% dos entrevistados fizeram o teste que detecta a presença do vírus no organismo”, disse Érico Arruda, presidente da sociedade de infectologia.

O resultado é a descoberta tardia, quando o HCV já pode ter causado danos ao organismo. “Setenta e cinco por cento não sabem que têm a doença até o surgirem sintomas graves ou precisarem de um transplante de fígado”, aponta Giovanni Cerri, diretor científico da Associação Médica Brasileira (AMB). “A única forma de impedir isso é diagnosticar o quanto antes e tratar.” A instituição participa da campanha.

O chamado para fazer o teste vale especialmente para pessoas com mais de 40 anos, que podem ter sido contaminadas há mais de duas décadas pelo contato com sangue contaminado.

Os médicos também estão na mira das entidades. A maioria dos clínicos gerais, por exemplo, não lembra de pedir o teste aos seus pacientes. Mas deveriam. Segundo o Datafolha, eles são a principal referência da população: se tivessem que buscar diagnóstico para a doença, 49% dos entrevistados marcariam a primeira consulta com um generalista.  Em segundo estão os hepatologistas (42%), depois os infectologistas (35%), ao gastroenterologistas (5%). Cerca de 6% não fazem ideia de quem procurar. 

Outro dado que impressiona é que mais de 40% dos 2.125 entrevistados não sabem como a hepatite C é transmitida. Acreditam que é por meio da saliva, de picada de insetos, de animais ou pela água, mas estão enganados. A principal forma de contágio da hepatite C é o contato com o sangue infectado, possibilidade referida por 59% entrevistados.

Levantamento em São Paulo

A Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo também lançou esta semana um censo para mapear o número real de pessoas com hepatite C no Estado. O governo acredita que os casos notificados estejam muito abaixo do número real e quer os dados para redimensionar suas políticas.

Portadores da doença em todo o Estado devem preencher um cadastro online, disponível no site da Secretaria (http://www.saude.sp.gov.br/). 

Desde 2000, o Estado de São Paulo registrou 68.297 casos de hepatite C. De acordo com o IBGE, isso corresponde a 0,1% da população paulista. A comparação com a estimativa da Organização Mundial de Saúde, de que a Hepatite C acomete cerca de 3% da população, dá ideia da defasagem nos diagnósticos.

Novos tratamentos

A partir de agosto, pacientes de hepatite C passam a ter acesso pelo SUS a novos antivirais orais. Trata-se dos remédios sofusbuvir, daclastavir e simeprevir, que vinham sendo alvo de grande número de ações judiciais e agora foram incorporados à rede pública.

Trata-se da terapia mais avançada disponivel e sua chegada muda a face do tratamento. Ministrados de forma combinada, eles elevam as chances de cura para mais de 90%. Transplantados e pacientes graves estão entre os principais beneficiados. Nestes casos, suas chances de cura sobem de menos de 30% para 60%.

Para a médica Edna Strauss, da Sociedade Brasileira de Hepatologia, os novos remédios melhoram bastante a adesão ao tratamento. “Eles causam menos efeitos colaterais e reduzem o tempo de tratamento para 12 a 24 semanas”, diz a especialista.

Atualmente, as terapias associadas com o interferon podem durar até 48 semanas. A substância causa intensos efeitos colaterais.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária aprovou também uma pílula com quatro antivirais, chamada pelos médicos de 3 D. 

- Onde fazer o teste

Na rede pública ou laboratórios de análises clínicas. Basta uma gota de sangue. Hoje, porém, faltavam kits de teste em postos de saúde do Rio de Janeiro

- Como se prevenir

Como não existe vacina contra a hepatite C, a prevenção depende de conhecer as formas de transmissão do vírus e evitá-las. Portanto,

 – Não utilize drogas injetáveis nem compartilhe objetos de higiene pessoal (escova de dente, lâminas de barbear), de manicure (alicates, lixas, espátulas), instrumentos para tatuagem que possam conter sangue, porque o VHC chega a sobreviver quatro dias fora do corpo humano;

– Verifique, quando for fazer exames, se agulhas ou qualquer outro objeto que entre em contato com sangue é descartável ou está devidamente esterilizado;

– Só faça sexo com preservativo sempre;

- Antes de engravidar, faça o teste para saber se é portadora do vírus da hepatite C;

–  Fique longe das bebidas alcoólicas, se for portador do VHC, porque o consumo de álcool aumenta o risco de desenvolver as complicações da doença.

Fonte: drauziovarella.com.br

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