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Pedro Bial defende o BBB: Ninguém aguenta só realidade

A certa altura do filme Crimes e Pecados, o personagem interpretado por Woody Allen diz: Nós somos a soma das nossas decisões. O trecho de um texto de eliminação do Big Brother Brasil pode falar sobre um paredão ou sobre o próprio autor. Afinal, Pedro Bial, jornalista conceituado, migrou para o entretenimento. Às vésperas da 16ª edição do reality show, que começa nesta terça-feira, 19, na RBS TV, depois de A Regra do Jogo, a equipe do ATL Paper trocou uma ideia com o regente do programa. Senhoras e senhores, com vocês, o homem do filtro solar.

Potter – Como está este coração para começar a apresentar mais uma edição doBBB?

Bial – É sempre um desafio. Por mais que seja a 16ª vez... Vocês viram o filme Feitiço do Tempo, com o Bill Murray?Adams – Sim!Bial – Ele é um meteorologista que acorda todos os dias no mesmo dia e sempre tem de cumprir aquele arco do tempo de maneira perfeita para poder ir adiante. De certa maneira, para mim, fazer o BBB é a mesma coisa. E cada vez tentando fazer melhor e de maneira benfeita. Não deixa de ser uma repetição, não existe muita maneira de alterar o formato básico: sai um por semana, o último que sai ganha o prêmio. A fórmula é essa. É o reality jurássico no ar. A mãe de todos os realities. Com essa aparente fórmula repetida sempre se renova, por incrível que pareça. Talvez pelo próprio elenco ser sempre diferente. As pessoas trazem suas singularidades, ainda que tentem ocultá-las. A gente também vai aprendendo a fazer televisão de um jeito melhor, tentando novas fórmulas. É isso. Você me perguntou como tá esse coração...... Potter – É tipo aquelas perguntas de site de fofocas: como tá esse coraçãozinho...Bial – Isso! Meu coração no emoji tá amarelo.Estúdio – Hahahahahahaha!Ouça o aúdio da entrevista:

Potter – Deve ser um trabalho anual de tentar bolar algo. Está cada vez mais difícil a gente chamar atenção para um meio de comunicação. As pessoas têm cada vez mais meios de se entreter e se informar. Como um reality show numa TV aberta trata com isso?Bial – O Big Brother é igual ao Neston: há mil maneiras de fazer Neston. Existem mil maneiras de assistir ao BBB. Tem gente que assiste na TV aberta, outros acompanham pela internet. Outros não acompanham pela internet, mas assistem ao pay-per-view. Cada um tem o seu envolvimento. Desde a primeira edição, em 2002, quando a internet estava longe de ser o que é hoje... Não existia YouTube, redes sociais, nem nada... O programa já nasceu multiplataforma.

Duda – Eu sou um grande fã de Big Brother. Declarado. Gosto deste tipo de programa. As personalidades das pessoas são as mesmas, geralmente. O cara mais fortão, o outro mais bonito, a guria que vai chamar mais atenção... Não seria legal a Globo dar uma virada nessa fórmula, já que a última edição não foi a que mais chamou minha atenção? Ela me tirou a vontade de ver por causa da personalidade das pessoas.Bial – Engraçado. A última é justamente a que fugia do padrão que você indicou. Ao contrário de você, eu gostei e achei que ela saiu de certos tipos que estavam consagrados, trazendo alguma variedade humana ainda não contemplada.Pedro Bial dispara: Transformamos o lixo em luxo   Três sisters terão quartos de hotel invadidos por câmeras antes do BBB  

Duda – É que a gente vê que o Boninho tenta mexer no jogo durante o reality para trazer coisas novas e tal. Enfim, é uma percepção de quem vê de fora.Bial – Claro! E é a percepção de quem está do lado de fora que a gente quer entender. Agora, o que acho que houve no ano passado e neste foi uma renovação na busca pelo elenco. Foi muito ampla a busca pelos personagens que vão compor o elenco. Foram feitas milhares de entrevistas. Essa procura foi muito criteriosa. Agora, tem sempre o imponderável. Você acha que montou um elenco que pode render, mas não se sabe o que vai acontecer quando eles se juntarem e entrarem na casa.

Potter – Quem tá montando o melhor elenco: BBB ou Fluminense?Bial – Até agora, certamente, o Fluminense. Kkkkkkkk! 

Adams – Você é o apresentador e a voz do público com o decreto do que foi decidido na votação. Em algum momento você se decepcionou com alguma votação?Bial – Cara, é possível que sim. Mas não vou nem me lembrar. Eu apago e vou adiante. Acho que uma bruta decepção, não lembro. Agora, uma discordância? Sim, frequentemente. Por mais que eu procure ver pelos olhos dos telespectadores, não sou um espectador. Estou ali numa outra função. Como dizer que a gente faz aquilo ali de uma maneira seriíssima, como se fosse uma tragédia para que vire uma comédia para quem assiste. Não tenho paixão...... Potter – Paixão o Bial já disse que não... E tesão olhando pro BBB?

Bial – E você não teve?Potter – Muita vezes!Bial –Hahahahahahaha!Potter – Posso te falar que é um sentimento anual.Bial – HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA! Uma vez por ano você lembra que aquilo existe.Potter – Debutamos nesse sentimento.Bial – O sexo, o flerte, a beleza dos corpos faz parte da receita do BBB.

Duda – Você imaginava que do BBB surgisse um político influente, como o Jean Wyllys?Bial – Cara, imaginava que o Jean seria alguém importante, pois é uma figura impressionante. Achava que ia para o lado da educação, já que era professor. De certa maneira, o que se propõe a fazer também tem fins didáticos, né? Imaginava que faria alguma coisa bem. Não necessariamente com essa proeminência toda. Engraçado é que na mesma edição, os dois finalistas se transformaram em pessoas muito bem-sucedidas. A Grazi (Massafera) e ele.

Maicá – Como você vê o mercado de reality show com os serviços por streaming? Antigamente as pessoas se iludiam com novelas. Hoje tem as séries. O público está interessado em assistir a 10, 15 pessoas confinadas?Bial – O que temos constatado é que as pessoas têm muito interesse no programa. Ele vai muito bem de audiência. O que você chama de ilusão, seja em novela, série, teatro, é uma necessidade de escapismo que tem de ser compreendida. A vida não tá fácil. O Brasil está massacrando os brasileiros diariamente. Estamos vivendo momentos muito difíceis. Quando você chega em casa à noite, tudo o que quer é assistir à maior besteira do mundo para escapar da realidade. Acho que a gente costuma usar a palavra escapismo como algo ruim, quase pejorativo. Mas não dá! A gente precisa escapar! Ninguém aguenta só realidade. Você tem de falar besteira, rir e não levar tão a sério. Nesse sentido, acho que o Big Brother nos últimos anos tem prestado esse papel.Leia mais notícias sobre televisão 

Potter – Segredos de BBB. Como é formado o time?Bial – A gente fechou um grupo de 30 em dezembro. Um pouco antes do Natal, demos um corte para o número final de participantes. Mas sempre deixamos uma margem, pois algum pode ter um problema, desistir, mudar de ideia... Eu não tenho acompanhado esses dias, pois foi a primeira vez que participei das últimas entrevistas de seleção, chamadas de cadeira elétrica. Ela é feita num hotel, numa sala de reunião, e eu estava num quarto ao lado assistindo pela televisão e falando pelo ponto com o Rodrigo Dourado, que é o diretor do programa. Ajudei nessa escolha final. A partir daí, me afastei, pois tenho de fechar várias tampas para poder submergir no BBB.

Maicá – Parece ser um processo muito desgastante para você psicologicamente. É?Bial – Desgastante fisicamente, pois reduz muitas horas de sono. O fuso horário muda. Durante o ano, acordo e durmo muito cedo. No Big Brother é ao contrário. Por volta das cinco horas estou indo dormir. Psicologicamente, não sei. Tem uma coisa de tensão, mas não é desgastante psicologicamente. Por incrível que pareça, apesar de muita gente discordar, é muito estimulante intelectualmente. Me obriga a estar com a cabeça ligada, com a capacidade de observação. A gente fica buscando a historinha para fazer aquele teatro. Não parece, mas tem um sentido. Essa coisa de você ir tornando o script depois que a coisa aconteceu é muito estimulante. Mexe com tudo o que já li, vi, ouvi... O que é uma característica do pop. O pop tem essa coisa poliglota de juntar todas as linguagens: TV, cinema, livro, música, desenho animado. Só de falar, fico todo animadinho.

Adams – Você faz grandes textos para revelar o eliminado. Já aconteceu de algum BBB vir depois e dizer que não entendeu o que você disse?Bial – Hahahahahaha! Cara, não. Isso só os críticos de jornal que dizem. É claro que, às vezes, a ideia é não ser compreensível. Maaaaassss.... não.

Potter – Como soube da morte do David Bowie? O que você tem para contar de algum vínculo com ele?Bial – Meu vínculo com o Bowie é total. Ele foi o meu primeiro e único ídolo. Na sexta (9), eu estava tirando uma semaninha de férias antes do BBB e a primeira coisa que eu fiz, foi baixar o disco novo dele. Passei sexta, sábado e domingo ouvindo o disco novo, como eu fiz com todos os discos do David Bowie em toda a carreira dele. Eu fiquei muito perturbado. É um disco pesado, que fala de morte, ressurreição... deeeenso! Fiquei muito mexido com aquilo. Segunda, pela manhã, acordei às 5h com o alerta de notícias do NY Times falando da morte dele. Eu fiquei muito abalado. Aí, a Globo News me chamou, pois a maior entrevista para uma TV brasileira que ele deu foi para mim, em 1993. Foi uma delícia encontrá-lo. Imagina! Um gênio, o ídolo da minha vida desde que eu tinha 12 anos de idade. Eu acho uma lástima ele ter ido tão cedo. Hoje em dia, morrer com 69 anos é um absurdo. O cara morreu com essa idade e até o último momento produziu e criou coisas tão do c@r@lh#. Imagina se esse cara tivesse vivido até os 80, 90, o quanto não tinha pra dar pra gente? Fiquei muito chateado, mas o cara tá vivíssimo na obra, que segue pulsando e vai permanecer por muito tempo.

Potter – O que aconteceu entre ele e o Mick Jagger?Bial – Parece que eles tiveram um trelelê. Na verdade, o Jagger queria ter um negócio com a Angie, que era mulher do Bowie. Mas o negócio acabou com o meninos brincando. O que é curioso é o Bowie se lançar de maneira totalmente andrógina com aquele personagem, depois se vestiu de mulher. Ah! Só um pouquinho! Lembrei de uma coisa! O Bowie é o cara que nos apresentou o Lou Reed. Depois do Velvet Underground, o Reed não sabia para onde ir e Bowie que produziu Transformer. Após 10 de ele ter se transformado em andrógino, quando ele já estava de terno, perguntaram pra ele sobre a questão da bissexualidade, ele disse: Eu não sou homossexual. Eu detesto homossexual. Deu um problema. Ele falou com um desprezo. Segundo o Bowie, o barato da androginia era uma subversão cultural, não uma orientação sexual. Depois, acredito que ele ficou somente com meninas, em especial a Somália.

Adams – O Bowie era um cara maneiro. Uma vez, ele tava pegando a mãe do Slash, guitarrista do Guns N Roses... O cabeludo chegou em casa e viu a mãe dele no meio do ato com o Bowie. Aí, o Slash olhou e disse: Mamãe!!! Ah... É o David Bowie!Bial – HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA!

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