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Após 1 mês, denúncia do sindicato se confirma e ferrovia de MS é desativada

Nas proximidades da sede da empresa, são encontrados vários vagões que antes transportavam combustível e minério. (Foto: Marcelo Calazans)

Quase um mês após denúncia do sindicato, a Rumo ALL concretizou seus planos e desativou a ferrovia em Mato Grosso do Sul. Sem dar explicações ao poder público e aos próprios trabalhadores, a empresa fez demissões, remanejamentos e hoje apenas poucas pessoas ainda atuam na manutenção da ferrovia.

Já foram 120 funcionários demitidos e outros quatro remanejados para outros estados. Apesar de não confirmar a desativação, o que se vê onde é a sede da Rumo ALL em Campo Grande é a comprovação do abandono. No local, trabalham apenas alguns funcionários, na iminência de serem demitidos.

Sem querer se identificar por medo de represália, eles conversaram com o Campo Grande News e afirmam que lá a situação só piora a cada dia. Até o mês passado ainda tinham vagões passando por aqui, agora só tem um com ferro que vai para a Bolívia. Não sabemos quando ele vai parar e nem quando seremos demitidos, conta.

Eles confirmam que pela sede da empresa passavam vagões carregados de ferro-gusa e combustível até pouco tempo atrás e que hoje, apenas esperam o fim do contrato de exportação de ferro, que não há data oficial. Não temos informação nenhuma. A gente não sabe se vai fechar agora, daqui 20 dias ou 15 dias. Não podemos fazer compromisso nenhum, porque não sabemos até quando teremos emprego.

Os poucos funcionários que restaram trabalham na manutenção do único vagão carregado com ferro, que ainda passa pelo local. Vários outros são vistos abandonados pela sede da empresa. Para que eles voltem a rodar é preciso investimento em melhorias e manutenção, o que não parece estar nos planos da Rumo ALL.

Confirmação - Apesar de não se manifestar oficialmente, a Rumo ALL fez uma sutil mudança em seu site. Na área de unidades, retirou o ícone que indica que em Mato Grosso do Sul há unidade ou terminal ferroviário. Agora, indica que por aqui apenas há malha ferroviária.

Para Willian Monteiro, representante do Sindicato dos Trabalhadores Ferroviários, a pequena mudança diz tudo. Eles praticamente, oficializaram no site que não existe mais unidade aqui. Só a agência nacional que não vê isso, para tomar as providências.

Acontece que a Rumo ALL tem a concessão do governo federal para explorar a ferrovia que passa por aqui. O contrato de 30 anos só termina em 2026, e a desativação das atividades vai contra as regras impostas pela ANTT (Agência Nacional de Transporte Terrestre). Por isso, o sindicato e autoridades estaduais cobram do órgão federal uma reposta para a situação.

Ainda no mês passado, a ANTT disse, em nota, que cobraria explicações da Rumo ALL sobre as denúncias e que daria 10 dias para uma resposta oficial. O prazo foi encerrado no dia 28 de maio e hoje, a agência disse que recebeu a resposta da empresa e que ela está sendo analisada pela área técnica.

Cobrança - Enquanto isso, o governador Reinaldo Azambuja (PSDB) com auxilio de demais políticos, tenta obter explicações da empresa e do governo federal, na tentativa de reverter o que já é fato. Na próxima sexta-feira (12), está marcada uma reunião entre o governador e a Rumo ALL, onde espera-se ter alguma resposta.

A ferrovia é um importante meio de escoar a produção do Estado. Com a desativação, produtos como combustível, ferro e celulose terão de chegar até o destino pelas rodovias. Estimativa do governo do Estado mostra que só o transporte de combustível vai colocar mais 6 mil carretas por mês nas rodovias do Estado.

Outro lado - Procurada pelo Campo Grande News, a Rumo ALL não se manifestou sobre a desativação. No mês passado, disse que houve a necessidade de um ajuste em suas operações da métrica norte, envolvendo as áreas de mecânica e tração e que suas operações dependem da demanda de mercado e que mantém uma comunicação transparente com os funcionários sobre suas diretrizes.

Em relação as atividades em outros municípios como Corumbá e Três Lagoas, estão sendo mantidas, mas com ressalvas. Ou seja, em Corumbá existe um transporte interno de ferro-gusa e minério. Já em Três Lagoas, importante polo industrial de MS, empresas privadas como a Eldorado e a Fibria investiram recursos próprios na compra de vagões que transportam a celulose pela malha ferroviária administrada pela ALL.

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