Buscar

Corpo de indígena morto em MS será enterrado no mesmo local do conflito

Polícia diz que recuperou três das quatro armas que estavam com índios.Indígenas afirmam que devolveram todos equipamentos policiais.

Carro da funerária chegando no local do conflito com corpo do indígena (Foto: Gabriela Pavão/G1 MS)
Armamento recuperado que estava em posse dos indígenas (Foto: Diogo Nolasco/TV Morena)

O corpo do agente de saúde indígena Claudione Rodrigues Souza, de 26 anos, morto com tiro durante confronto entre índios e fazendeiros em uma propriedade em Caarapó, no sudoeste de Mato Grosso do Sul, na terça-feira (14), vai ser enterrado na região do conflito. O corpo foi levado até o local pela funerária na tarde desta quarta-feira (15) e deve ser enterrado na quinta-feira (16).

A Fundação Nacional do Índio (Funai) informou que a área está na Terra Indígena Dourados-Amambaipeguá. Conforme o órgão, ela é tradicionalmente ocupada e está em estudo para regularização fundiária.

Segundo a Polícia Federal, três das quatros armas foram devolvidas nesta quarta-feira, sendo duas pistolas .40 e uma espingarda calibre 12. Os indígenas dizem que devolveram todas os armamentos.

Ainda não foram devolvidos uma pistola, dois carregadores e documentos e objetos pessoais dos policiais feitos reféns ao escoltar os bombeiros que atendiam os feridos. Segundo o tenente-coronel Carlos Silva, responsável da PM de Caarapó, os militares também tiveram objetos pessoais roubados, como celulares, carteira e documentos.

Ao G1, o delegado Maranhão informou que a PF vai utilizar os recursos necessários para apurar os crimes cometidos e tentar resguardar a segurança de todos.

A convivência entre indígenas e produtores rurais em Caarapó tem histórico de tranquilidade apesar do confronto de terça-feira, segundo o Sindicato Rural do município. Em nota, o sindicato rural de Caarapó afirmou que "lamenta o clima de tensão, uma vez que os produtores rurais da região  sempre tiveram bom relacionamento e boa convivência com os indígenas”.

ConfrontoDurante o conflito outros seis indígenas ficaram feridos e continuam internados. Cinco deles foram transferidos para Dourados e três passaram por cirurgia. Uma indígena foi atingida por um tiro de raspão e está internada no hospital de Caarapó.

Depois do conflito entre indígenas e fazendeiros, o Corpo de Bombeiros foi acionado e foi até o local acompanhado da Polícia Militar. Ao chegarem na propriedade, um pneu da viatura da PM furou e três policiais foram feitos reféns. Os índios pegaram as armas, os coletes e queimaram a viatura.

Por causa da insegurança na região, o Ministério da Justiça e Cidadania vai enviar a Força Nacional. Mas não informou a data e nem quantos militares. Segundo o prefeito da cidade, Mário Valério (PR), 50 homens da Força Nacional e 30 da Polícia Federal (PF) de Brasília serão enviados ao município.

Em nota oficial divulgada na manhã desta quarta-feira, o governo de Mato Grosso do Sul afirma que pediu ao Ministério da Justiça a presença da Força Nacional de Segurança Pública na região.

No comunicado, o Executivo diz ainda que estão sendo realizadas investigações para identificar os autores das agressões policiais, o roubo das armas e os danos causados à viatura policial e que a PF apura a morte do agente de saúde indígena Claudione Rodrigues de Souza, de 26 anos.

VídeosA Polícia Federal (PF) aguarda vídeos do confronto com fazendeiros feitos por indígenas, para avançar nas investigações sobre o caso. O delegado da PF de Dourados, Marcel Maranhão, disse que a devolução das armas era uma das condições para a PF continuar as investigações sobre a morte.

RefénsApós confronto dessa terça-feira, militares acabaram rendidos pelos indígenas por duas horas após o pneu da viatura furar. Eles tiveram as armas de fogo e coletes tomados, a viatura queimada e três sofreram ferimentos leves.

"Os policiais não esperavam esse tipo de situação de quem eles foram ajudar. Apanharam com pedaço de pau. Algemaram eles com as próprias algemas", afirma o comandante da Polícia Militar (PM) de Dourados, que responde pelo município, tenente-coronel Carlos Silva.

Ainda segundo o tenente-coronel, a equipe foi recebida a tiros e há suspeita de que índios paraguaios estejam entre os indígenas brasileiros. "Os indígenas falavam que iam atear fogo nos policiais. Chegaram a jogar gasolina neles. O que mais nos deixou preocupados foi que a polícia foi garantir a vida dos indígenas e foi atacada por aqueles que visavam salvar", fala o oficial.

Em nota, a Associação dos Subtenentes e Sargentos Policiais e Bombeiros Militares de Mato Grosso do Sul (ABSSMS), seccional Dourados, repudiou "as ações de extrema violência contra a integridade física de policiais militares".

Outras mortesEm agosto de 2015, cerca de 80 indígenas ocuparam cinco fazendas vizinhas à aldeia em Antônio João (MS). Durante retomada feita por fazendeiros, os dois grupos entraram em confronto e um indígena foi encontrado morto perto de um córrego, dentro de uma das fazendas.

Em maio de 2013, confronto entre indígenas e policiais durante a reintegração de posse de uma fazenda ocupada em Sidrolândia, a 70 quilômetros de Campo Grande, deixou um índio morto e vários outros feridos.

Comentários

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.